Ontem eu vi uma mulher que queria comprar um maço de cigarros.
Mas ela se in-comodou com a foto que es-cancarava as consequências dos fatos.
Eu não sei o que ela viu.
Eu não sei se ela viu um feto morto num pote.
Nem sei se viu um homem sem pernas.
Eu não sei se ela viu uma criança e um nebulizador.
Ou se viu bichos peçonhentos mortos.
Eu não sei se ela viu um sinal de negativo em frente à impotência de um homem.
Eu não sei se ela viu um corpo aberto em autópsia.
Eu não sei se era um pé gangrenado.
Ou uma mulher com seu rosto queimado.
Eu não sei se ela viu um coração exposto.
Nem sei se viu uma criança triste diante de seu pai morto - ou quase morto.
Eu não sei o que ela viu.
Eu sei que ela viu, e pediu pra ver outro, e outro, e outro.
Dentre outros, escolheu um, virou-o de costas, colocou em sua bolsa e foi embora.
Eu nem sei se ela me viu.
Tem, mas acabou!
Na verdade, acabou de acabar!
sábado, 3 de fevereiro de 2018
sábado, 20 de janeiro de 2018
Menos Facebook, mais internet...
Começando:
Já há algum tempo, venho me preocupando muito com como eu mesmo (e o mundo, na verdade) ando usando a Internet. A forma como o Facebook me dominou (justo eu, que sempre - ou, pelo menos, desde os 17 anos - fui um usuário polivalente desse mundo virtual) começou, há um tempo já, a me incomodar. Tentei algumas estratégias para reduzir minha frequência de uso do Facebook, mas logo fui percebendo que, sem Facebook, eu não sabia mais como usar a Internet e me percebi, de repente, preso numa microcela no meio do espaço sideral. Ainda me vejo nela. É linda, mas pequena e tem uma janelinha bem emoldurada de onde eu vejo a Terra girar. Ela vai girando, girando, e às vezes eu até acho que estou nela. #sqn
Primeiro corte:
Eu tenho 17 anos e consegui comprar/ganhar (meio a meio) meu primeiro computador. Não havia internet banda larga (ou eu desconhecia sua existência) e tinha que esperar, todo dia, dar meia-noite para poder acessar a Internet (quem acessa a Internet hoje em dia?). Aos sábados, a brincadeira podia começar mais cedo, às 14hs se não me engano e eu podia deixá-la conectada até segunda de manhã, se ninguém precisasse usar o telefone. Naquele tempo, telefone e internet disputavam espaço. Eu já tinha entrado no Orkut e, aos poucos, fui entrando no msn, criando esse blog, esse fotolog, descobrindo meus sites favoritos, baixando músicas em programas de compartilhamento, etc. Tudo era muito lento naquele tempo e dava pra eu usar a internet enquanto fazia outras coisas. E era importante pensar no que se ia fazer para não se perder tempo. Não valia à pena visitar (alguém visita alguma coisa hoje?) todas as páginas de todos os conhecidos, todos os sites, todas os álbuns que todos tinham no Orkut. Você escolhia alguns favoritos e sua rede de contatos se limitava a eles. O mundo era menor nesse tempo, mas, por outro lado, a gente conhecia melhor quem/o que queria conhecer... Saudades desse tempo.
Segundo corte:
Tenho 22 anos e vou passar as férias de julho na Argentina. Faço alguns amigos, desses de viagem, cuja amizade não sobrevive às ferias seguintes. Lá fora ninguém tem Orkut. Todo mundo usa o Feirbuk (ou como dizem por aqui Feicibuk). Entro nele também, adiciono os amigos de lá, acho chato e deixo pra lá, acessando-o esporadicamente para ter notícias dos amigos perdidos pelo mundo. Dois anos depois, de repente, todo mundo daqui começa a me adicionar no Facebook, o Orkut vai sendo deixado de lado e passa a ser alvo de piadas e menosprezo. Quando o Facebook se populariza, passam a dizer que estão Orkutizando o Facebook. Quem me dera! #ripOrkut Ele morre, mas já tinha morrido antes, ao tentar transportar para ele as "inovações" de Zuckerberg. Não tem mais depoimentos, não tem mais limites para fotos e, de repente, a opinião de todo mundo sobre as coisas mais banais começam a aparecer na sua tela do computador e, logo depois, do celular. A todo o tempo. 24 horas por dia. O monstro não para de crescer: vem Instagram, Whatsapp, Snapchat, Twitter. Tudo toma uma proporção gigantesca e, de repente, eu me vejo usando a Internet, sem sequer digitar um site qualquer na barra de endereços. Só links que alguém viu, gostou e compartilhou. Mas quem viu primeiro e por que viu? Saudades daquele outro tempo.
Terceiro corte:
Estou assistindo a entrevista do Nicolelis e da Laís Souza ao programa do Bial e, em algum momento, Pedro Bial pergunta ao neurocientista se a descoberta do algoritmo (esse que faz a Netflix te indicar filmes ou o Facebook apresentar propagandas específicas para você) não seria a verdade absoluta, uma vez que a nossa vida inteira seria ditada por ele. Lindamente, Nicolelis marca um posicionamento forte de que nós não somos máquinas e que, na verdade, querem (quem?) impor ao ser humano um padrão de comportamento que não corresponde à nossa condição humana. Na época, eu estava fechando a minha tese, já atrasado e sem tempo, naquele momento em que você vê seu tema em tudo o que olha, e não consegui deixar de articular a fala dele a um conceito com o qual eu trabalhei na tese: o de políticas cognitivas, da professora Virgínia Kastrup. Essa postagem, inicialmente, seria sobre isso, mas não foi, justamente porque não sou uma máquina e minha mente me levou, na escrita, por caminhos que eu não esperava ir... Saudades de ter tempo.
Quarto corte:
Sai essa entrevista no El País da cyberantropóloga Amber Case. Logo de cara, ela diz assim: "Quando me levanto pela manhã devo me perguntar se dedico tempo a mim mesma, se posso meditar, desenhar, se escrevo. Mas o fato é que o meu dia a dia está tomado pelas notificações do telefone, do computador. Então, que tempo de reflexão me reservo?" Muitas pessoas compartilharam essa entrevista no Facebook e algumas, inclusive, me marcaram ou me enviaram o link. Eu que já vinha compartilhando minha angústia por estar preso ao Facebook e ao celular, que já tinha excluído alguns aplicativos e retirado as notificações, de repente, encontro palavras que manifestam bem meu incômodo. Mas palavras não salvam ninguém. Não as dos outros. Saudades do tempo das minhas palavras.
Quinto corte:
O Facebook, que já tinha voltado pro meu celular, me indica esse programa especial de fim de ano do GregNews, no qual ele apresenta uma resolução de fim de ano muito semelhante à minha e que nomeia essa postagem: "Menos Facebook, mais Internet". Eita! Seria o algoritmo definindo quem eu sou? Talvez, mas foi o corte decisivo: de repente, minha #mentenãomáquina integrou todos os cortes anteriores e mais um monte de coisa e foi dado o ponto final: em 2018, eu escreveria mais (fora do Facebook!), desenharia mais, leria mais (fora do Facebook!) e usaria mais a internet fora do Facebook. Eu só tinha esquecido (#mentenãomáquina, né?) que eu já havia decidido isso antes e que não adiantou muita coisa, porque não basta eu decidir isso, se todo mundo que usa a Internet ainda acha que o Facebook é a Internet. Saudades dos tempos de Orkut.
Voltando:
Eu baixei o Moment - um aplicativo que diz quantas horas por dia você passa no celular - e descobri que tenho ficado, em média, de 3h a 5h por dia com ele nas minhas mãos. Isso é a soma de pequenos minutos que poderiam estar sendo usados de outra maneira. Percebo que pra eu poder sair da #minicelafeicebuk, eu preciso voltar a um tempo em que o uso da Internet era mais lento. Eu preciso descentralizar meus usos on-line: preciso voltar ao blog, ao fotolog (exagero talvez?), aos sites que eu visitava antes, preciso voltar a ter uma lista de páginas favoritas, ver vídeos vendo os vídeos, e por aí vai. Está difícil, porque isso envolve sair do celular e sentar na frente do computador. Envolve eu construir um tempo que se perdeu de algum modo na minha vida. Na minha e na de muita gente. Sem querer, enquanto escrevo isso, eu lembro que não só muitos jovens (meus ex-alunos, por exemplo) construíram sua relação com a Internet mediada pelo Facebook, como muitos adultos também. Todos que estão uma geração acima de mim e que hoje vivem no celular só conhecem a Internet do modo como ela existe há uns 10 anos, quando os smartphones se popularizaram. Para mim, isso é assustador e eu que vivi por aqui outros tempos não podia deixar de tentar fazer diferente. Bom... Vamos tentando...
Fechando:
Eu, hoje, só hoje, 20 dias depois que planejei escrever esse texto, o fiz, mas ele está aqui, quase feito. Outros pequenos passos estão sendo dados: notificações bloqueadas (todas!), menos grupos no whatsapp, e a busca por fazer do Facebook um espaço menor. Pelo menos um deles, porque, paradoxalmente, eu decidi ter dois facebooks: um pequeno, com pouca gente, com menos informações pra me tentar (se possível, cada vez menos...), sem nada (se possível...) de trabalho. Esse vai ficar no celular. E outro, com mais gente, onde não é preciso apagar as pessoas da minha vida (essa postagem ia ser sobre isso, mas, de novo, não foi...), mas também não é preciso saber tudo sobre todas elas o tempo todo. Assim, quem sabe, eu consigo selecionar melhor não o que as pessoas vão saber de mim, mas sim o que eu vou saber delas. Quero voltar ao tempo em que era possível esbarrar com alguém que não via há muito tempo na rua, dar um #oitudobem e ter novidades pra ouvir. Muitas novidades, que possam preencher o espaço de um tempo bom de conversa, sem que um "ah, eu vi no facebook" constrangedor emperre o ritmo da narrativa.
Por fim:
Esta postagem ia ser sobre muitas coisas que não foi. Na minha cabeça ia ser um texto muito bacana, que também não foi, mas sei também que a escrita tem seu tempo e é preciso dar o seu tempo a ela. Ia revisar, mas achei melhor não, considerando a tentação de querer apagar tudo. Porém, curiosamente, relendo os textos antigos desse blog, antes de fazer esta postagem, achei esse texto que me disse muito do que eu queria dizer agora. Para quem chegou até aqui, fica aí a dica e a prova de que eu posso escrever melhor do que eu fiz agora. Maldito Facebook que destruiu minha capacidade criativa! 😞
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Poema de Contato
Finding new places
To discover them-us again
Again
To discover them-us again
Again
Encontrando nuevos lugares
Para descubrirl-nos otra vez
Otra vez
Para descubrirl-nos otra vez
Otra vez
Encontrando novos lugares
Para descobrir-nos de novo
De novo
Para descobrir-nos de novo
De novo
(Ou ode à espera)
sexta-feira, 4 de julho de 2014
"Que o la tumba serás de los libres, o el asilo contra la opresión"
Já faz algum tempo que prometi voltar ao blog... De lá pra cá, só consegui mesmo foi ter um monte de ideias sobre o que escrever, alguma programação para quando escrever e o que escrever e nenhuma postagem. De todas elas, uma ficou aqui martelando na minha cabeça, por conta de uma indignação que insiste em não passar... Indignação, para quem não sabe, é o meu forte. Algumas vezes me indigno com razão, algumas sem razão (pra mim, com razão, sempre...), algumas vezes me indigno facilmente, outras vezes, a indignação vem crescendo aos poucos... Em alguns momentos, inclusive, ela aparece repentinamente e vai crescendo violentamente como numa grande progressão geométrica explosiva... Entretanto, como acontece com quase todo mundo, na maioria das vezes, essa indignação não dá em nada... às vezes, ela passa e, outras vezes, ela continua martelando minha cabeça com marteladas ritmadas e fortes de dentro para fora, como se quisessem de qualquer jeito quebrar meus ossos e saltar do cérebro pro mundo...
Essa foi uma delas. Eu não vi, no momento em que ela aconteceu, a vaia que a "torcida" instagramada brasileira fez quando a torcida chilena cantou seu hino à capela. Soube depois que o jogo começou e fui buscar as cenas. A indignação, dessa vez, veio no esquema PG, de uma vez e com tudo. Não me aguentei, senti uma vergonha, uma raiva e um nojo tão grandes que, como qualquer indignado do século XXI, desabafei no facebook... Minha indignação não vinha simplesmente da falta de educação perante o hino de uma nação vizinha, vinha principalmente do fato de vivermos em um país que não conhece sua história e a história das nações que nos cercam, que nada sabem das culturas de nosso continente, que não tem a mínima ideia do que é um desejo de integração regional, que não se reconhece como América Latina... mas, ao mesmo tempo, um país que cresce economicamente e que, aos poucos, vai selecionando cidades dessa mesma América Latina para servirem de "balneários" de compras e divertimentos e que joga sua elite (ou nem tão elite assim...) financeira nessas cidades, como aspiradores de pó sugadores de fotos a serem postadas onde for possível postá-las e de produtos eletrônicos e roupas de marca que custem minimamente dez reais a menos do que aqui.
Logo lembrei de quando estava em Santiago com minha noiva, imerso na emoção e no encantamento de ter
visitado as casas do Neruda, ter ouvido sua voz em seus quartos, de ter visto o Rio Mapuche seco como secaram a cultura do povo que o nomeia, de ter entrado no Museu da Memória e dos Direitos Humanos e ter ouvido, em meio a tantos relatos e marcas de sofrimentos e de esperanças, o último discurso de Allende, que morreu defendendo a liberdade de seu povo... Em meio a tudo isso, esperando para subir no funicular do Cerro San Cristóbal, um casal de brasileiros (de uma cidade do interior de Minas) se aproxima e nos pergunta o que tinha de bom para fazer na cidade. Nós, pobres inocentes (ou inocentes pobres) começamos a citar os museus em que havíamos estado, as casas de Neruda, os funiculares de Valparaíso... Eles, com cara de que pouco estavam interessados em tudo isso, nos perguntam em uníssono: "E pra comprar, onde é bom ir?" Um silêncio quase que profundo e uma cara de Rosé Tchópin (essa poucos entenderão) foi a única resposta possível...
visitado as casas do Neruda, ter ouvido sua voz em seus quartos, de ter visto o Rio Mapuche seco como secaram a cultura do povo que o nomeia, de ter entrado no Museu da Memória e dos Direitos Humanos e ter ouvido, em meio a tantos relatos e marcas de sofrimentos e de esperanças, o último discurso de Allende, que morreu defendendo a liberdade de seu povo... Em meio a tudo isso, esperando para subir no funicular do Cerro San Cristóbal, um casal de brasileiros (de uma cidade do interior de Minas) se aproxima e nos pergunta o que tinha de bom para fazer na cidade. Nós, pobres inocentes (ou inocentes pobres) começamos a citar os museus em que havíamos estado, as casas de Neruda, os funiculares de Valparaíso... Eles, com cara de que pouco estavam interessados em tudo isso, nos perguntam em uníssono: "E pra comprar, onde é bom ir?" Um silêncio quase que profundo e uma cara de Rosé Tchópin (essa poucos entenderão) foi a única resposta possível...
Na minha cabeça indignada, logo vi esse casal no Mineirão (não lembro a cara deles, mas juro que os vi na tela da televisão aquele dia) vaiando o hino do Chile, vaiando a história que desconhecem, vaiando sua própria história, vaiando a luta contra o massacre e a opressão, que é a nossa luta (a nossa, a deles, e a de tantos povos vizinhos - e não vizinhos - e igualmente ignorados...). Vaiando em nome de sua própria burrice e ignorância... Perdoai, chilenos, eles não sabem o que vaiam... Não se indigne com eles, Diego, eles não sabem o que vaiam... eles não sabem sequer porque vaiam... Eles têm o dinheiro, vão pra Santiago, vão pra Buenos Aires, vão pra Cancun, vão pra Bariloche, às vezes até vão para Cuzco e Machu Picchu, mas de lá eles só levam o mesmo que levaram daquele dia no Mineirão - fotos no instagram, lembranças pros amigos, curtidas no facebook, muita diversão, e uma ignorância maior ainda, de quem conhece e não reconhece... E eles não têm culpa... eles não tiveram as aulas que você teve, eles não leram os livros que você leu, eles não viram os filmes que você viu... e a culpa não é deles...
A culpa é de um país que cresce economicamente, mas não investe em educação*... Entende?
*Na postagem do Facebook, eu havia escrito isso:
Mostrando ao mundo o resultado de um país que cresce economicamente e não investe em educação...
Eu já vinha achando que esse negócio de cantar "eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" no jogo dos outros não era legal... egocentrismo puro... deu no que deu...
Eu sou brasileiro, com muita vergonha, com muito nojo...
Eu já vinha achando que esse negócio de cantar "eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" no jogo dos outros não era legal... egocentrismo puro... deu no que deu...
Eu sou brasileiro, com muita vergonha, com muito nojo...
Espero ter me feito entender agora... Eu mesmo me perdi por lá em meio a minha indignação...
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Ao menos um final feliz (...) (?)
Depois de reler mais uma vez o texto bizarro da Rosely Sayão, tomei coragem para contar o final feliz de uma história que me emociona há anos e que me deu, sem querer, a dimensão da minha profissão. Aliás, uma história cheia de sem quereres, que só compartilho porque, longe de autorizar que me gabe sobre minha qualidade profissional, ela representa justamente o que fazemos quando nem sabemos o que estamos fazendo:
Há 6 anos atrás, começando minha vida profissional, ainda no CLAC, numa prática bem gramaticalista, passei como atividade de revisão para uma turma de Espanhol I, a seguinte atividade: pense num objetivo para sua vida (trabalhar a noção de infinitivo), diga o que você já fez até hoje para alcançar esse objetivo (trabalhar o pretérito composto), o que você está fazendo agora para isso (trabalhar a perífase "estar + gerúndio), e o que você vai fazer ainda (trabalhar a perífrase "ir + a + infinitivo"). Foi isso. Corrigi os verbos. Eles apresentaram. Foi bacana. E ponto.
Um ano e meio depois, encontro uma aluna dessa turma, ao aplicar uma prova oral na turma em que ela estava, já no Espanhol IV. Não lembro o tema da prova, mas ela, por alguma razão, me contou, que um dia eu lhe perguntei o que ela estava fazendo para mudar a sua vida e que aquilo a fez pensar. Ela, uns bons anos mais velha que eu, era empregada doméstica e cursava Letras, com muita dificuldade, por não ter tempo para estudar. Ela me disse que, depois dessa pergunta, decidiu tomar uma decisão: largou o trabalho para ganha uma bolsa de 300 reais (ou 500, não lembro) e trabalhar como estagiária numa escola. Estava superfeliz com a decisão, apesar das dificuldades financeiras que estava passando, pois estava conseguindo trabalhar no que ela sempre quis e estava conseguindo se dedicar mais à faculdade.
Demorei a entender do que ela estava falando, até que lembrei da atividade que comentei antes. Naquele dia, tomei uma dimensão tão grande do que era ser professor, que fiquei tão feliz, que meu medo, muito medo. Pensei em tudo que eu poderia ter feito de errado sem querer e todas as consequências que esses erros podem ter causado, sem querer. Sem querer, chorei, naquele dia, pelo que fiz sem saber e pelo que não fiz sem saber.
Hoje, em meio a uma greve de ônibus, que fez quase toda a população da cidade não sair de casa, encontrei aquela aluna de novo. Fiquei muito feliz, porque, principalmente, eu ia saber o final da história. Um final que já se mostrava feliz, já que ela usava uma blusa azul com o nome de uma escola na frente e atrás, em caps lock, PROFESSOR. Perguntei: tá dando aula? E ela me disse, com um baita sorrisão: "Tou!! Esse ano, dei uma diminuída, porque estava deixando de lado minha saúde, minha glicose tá alta... sabe como é, né? Muito trabalho, muito aluno, a gente se envolve com os problemas, a educação desvalorizada, etc etc etc".
Nunca fiquei tão feliz em saber que a taxa de glicose de alguém está alta e de ter tido uma conversa-desabafo-reclamação "à la sala dos professores" com uma colega de profissão!
Lógico que, para tantos outros, essa mesma atividade não fez diferença nenhuma. Então, não posso deixar de comentar a garra, a força de vontade dela e a fé em si mesma!
Mas... que, ao mesmo tempo em que isso me alegra, me angustia muito, ah, isso angustia...
Há 6 anos atrás, começando minha vida profissional, ainda no CLAC, numa prática bem gramaticalista, passei como atividade de revisão para uma turma de Espanhol I, a seguinte atividade: pense num objetivo para sua vida (trabalhar a noção de infinitivo), diga o que você já fez até hoje para alcançar esse objetivo (trabalhar o pretérito composto), o que você está fazendo agora para isso (trabalhar a perífase "estar + gerúndio), e o que você vai fazer ainda (trabalhar a perífrase "ir + a + infinitivo"). Foi isso. Corrigi os verbos. Eles apresentaram. Foi bacana. E ponto.
Um ano e meio depois, encontro uma aluna dessa turma, ao aplicar uma prova oral na turma em que ela estava, já no Espanhol IV. Não lembro o tema da prova, mas ela, por alguma razão, me contou, que um dia eu lhe perguntei o que ela estava fazendo para mudar a sua vida e que aquilo a fez pensar. Ela, uns bons anos mais velha que eu, era empregada doméstica e cursava Letras, com muita dificuldade, por não ter tempo para estudar. Ela me disse que, depois dessa pergunta, decidiu tomar uma decisão: largou o trabalho para ganha uma bolsa de 300 reais (ou 500, não lembro) e trabalhar como estagiária numa escola. Estava superfeliz com a decisão, apesar das dificuldades financeiras que estava passando, pois estava conseguindo trabalhar no que ela sempre quis e estava conseguindo se dedicar mais à faculdade.
Demorei a entender do que ela estava falando, até que lembrei da atividade que comentei antes. Naquele dia, tomei uma dimensão tão grande do que era ser professor, que fiquei tão feliz, que meu medo, muito medo. Pensei em tudo que eu poderia ter feito de errado sem querer e todas as consequências que esses erros podem ter causado, sem querer. Sem querer, chorei, naquele dia, pelo que fiz sem saber e pelo que não fiz sem saber.
Hoje, em meio a uma greve de ônibus, que fez quase toda a população da cidade não sair de casa, encontrei aquela aluna de novo. Fiquei muito feliz, porque, principalmente, eu ia saber o final da história. Um final que já se mostrava feliz, já que ela usava uma blusa azul com o nome de uma escola na frente e atrás, em caps lock, PROFESSOR. Perguntei: tá dando aula? E ela me disse, com um baita sorrisão: "Tou!! Esse ano, dei uma diminuída, porque estava deixando de lado minha saúde, minha glicose tá alta... sabe como é, né? Muito trabalho, muito aluno, a gente se envolve com os problemas, a educação desvalorizada, etc etc etc".
Nunca fiquei tão feliz em saber que a taxa de glicose de alguém está alta e de ter tido uma conversa-desabafo-reclamação "à la sala dos professores" com uma colega de profissão!
Lógico que, para tantos outros, essa mesma atividade não fez diferença nenhuma. Então, não posso deixar de comentar a garra, a força de vontade dela e a fé em si mesma!
Mas... que, ao mesmo tempo em que isso me alegra, me angustia muito, ah, isso angustia...
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Feliz Ano Novo
Uma e cinquenta e cinco da manhã do dia vinte e quatro de fevereiro de dois mil e catorze. Será minha volta definitiva a este lugar? Não sei... ultimamente, tenho tido mais idas do que voltas. Esse lugar é um amor antigo que não consigo abandonar. É minha camisa M que fica guardada junto com a esperança de que um dia eu volte a usá-la. É, ao mesmo tempo, minha bicicleta desmontada, guardada, nunca usada, que poderia me levar à minha blusa M, mas que continua guardada, intocável. E nem por isso esquecida. Talvez, por isso, lembrada. Bom... dois mil e catorze. E duas coisas me motivaram a voltar a escrever aqui. Ou melhor, que vêm me motivando, porque até sair a primeira palavra levou um certo (leia-se: duas semanas) bom tempo: O maldito rojão assassino e a dificuldade de implementação da lei do 1/3 de planejamento para os professores da rede municipal de Niterói - lugar onde trabalho, esclareço, caso algum desconhecido se atreva a ler esta garrafa vazia. Uma garrafa abandonada desde dois mil e dez e preenchida há alguns dias com algumas postagens antigas do meu facebook. Lembrando disso, decidi retornar a ele e ver o que aconteceu nesses dois últimos primeiros meses do ano pra buscar uma inspiração. Ou uma fuga, talvez. Mas voltei pra cá. Vamos lá, de trás pra frente: ligação-com-Freixo, BBB, Carnaval, PT x PSDB, Bad Sininho, Sherahazade, Rodoviária ou Aeroporto?, engarrafamentos, justiceiros, pessoas amarradas, incompatibilidade cronológica na novela, ônibus a três reais - já que não era pelos vinte centavos -, caminhão, passarela caída, Beyoncé, Jay-Z e Tina Turner, beijo gay, autismo, comercial do ENEM, universidades fechadas, faxina e acumulação e tentativa de dieta e exercícios já frustrada... Alguma coisa deve ter ficado por aí, mas essa é a nossa vida, esse é o nosso mundo agora-tudo-ao mesmo tempo e, depois, já foi-se embora. Por exemplo, minha vontade de continuar esse texto. Nesse exato momento, acabou de acabar. Control X, nova aba, rascunho... Continua numa próxima empolgação... Por enquanto, um relato - ou mais um:
Fonte: não sei, sinto muito, peguei no facebook mesmo!
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Sobre rolês e rolés...
Tem muita gente aí defendendo o rolézin, mas reclama do funk que cantam no ônibus...
Tem muito professor aí defendendo o rolézin, mas xinga seus alunos pela batucada e gritaria em sala de aula...Tem muita moça aí defendendo o rolézin, mas segura a bolsa quando um menino pobre preto passa perto...Tem muito moço aí defendendo o rolézin, mas atravessa a rua e segura bem a mão da filha quando um grupo de jovens desce o morro e resolve passear no asfalto...
Tem muita gente aí, tem muita gente aqui, tem muita gente lá...
Tá um saco essa politização do rolézinho... não sei, mas me parece que as pessoas não estão tocando no ponto que deveria ser tocado. Só vi um texto que me pareceu sensível a compreender, de fato, a lógica das coisas... Esse capitalismo escroto já tá tão naturalizado que as pessoas não se questionam mais sobre as bases em que se assentam essas práticas, é isso???
Quando eu estava em Luanda, descobri que a tão famosa prática americana do "barrados no baile" (ou seja, a seleção de quem pode entrar e quem não pode entrar num espaço privado em que as pessoas entram para consumir) era bastante comum nas danceterias de lá. Conversando com um amiga que frequenta lugares aqui no Rio que eu não costumo frequentar, soube que essa já é uma prática bastante comum em muitas danceterias e afins por aqui! E o que as pessoas fazem? Cada vez mais, tentam ser as pessoas que conseguem entrar, e, quando entram, olham com o mesmo desprezo para as que ficaram do lado de fora! Se ampliarmos essa discussão para as áreas VIPs da vida, então...
Eu, obviamente (ou não tão obviamente assim), me recuso a entrar num lugar em que eu precise da aprovação de alguém para ali poder consumir! Na minha cabeça (talvez muito errada), esses lugares não devem ser ocupados, mas sim esvaziados!!! São espaços privados que dependem do nosso dinheiro para sobreviverem... Porém, ao que me parece, cada vez mais, as pessoas não querem ser as barradas, como se isso as definisse!
Lógico que tenho nojo de um espaço que se define pela sua capacidade de existir a partir das pessoas que seleciona para entrar e das que têm sua entrada barrada. Mas, sinceramente, mais nojo tenho das pessoas que permitem a existência desses lugares, contribuindo com seu dinheiro para o financiamento dessa seleção, hoje, quase natural. Uma pena é ver que cada vez mais pessoas tentem ocupar esses locais e cada vez menos pessoas tentem esvaziá-los!
E enquanto todo mundo compartilha Dê um rolê, dos Novos Baianos, fico com Chopis Centis, dos sábios Mamonas Assassinas:
E entra tudo no mesmo pacote: Esquenta, Funk ostentação, Rei do Camarote, Sertanejo Universitário, Anderson Silva... viva o Capitalismo da Autoestima Elevada do novo velho jovem brasileiro (angolano, argentino, boliviano...), que luta por si e consegue o que quer, com seu esforço próprio (ou de qualquer outro jeito...).
Recomendo: http://revistaforum.com.br/blog/2014/01/os-rolezinhos-um-apartheid-a-brasileira/
Tem muito professor aí defendendo o rolézin, mas xinga seus alunos pela batucada e gritaria em sala de aula...Tem muita moça aí defendendo o rolézin, mas segura a bolsa quando um menino pobre preto passa perto...Tem muito moço aí defendendo o rolézin, mas atravessa a rua e segura bem a mão da filha quando um grupo de jovens desce o morro e resolve passear no asfalto...
Tem muita gente aí, tem muita gente aqui, tem muita gente lá...
Contradições da vida urbana, em qual delas eu me encaixo?
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Quando eu estava em Luanda, descobri que a tão famosa prática americana do "barrados no baile" (ou seja, a seleção de quem pode entrar e quem não pode entrar num espaço privado em que as pessoas entram para consumir) era bastante comum nas danceterias de lá. Conversando com um amiga que frequenta lugares aqui no Rio que eu não costumo frequentar, soube que essa já é uma prática bastante comum em muitas danceterias e afins por aqui! E o que as pessoas fazem? Cada vez mais, tentam ser as pessoas que conseguem entrar, e, quando entram, olham com o mesmo desprezo para as que ficaram do lado de fora! Se ampliarmos essa discussão para as áreas VIPs da vida, então...
Eu, obviamente (ou não tão obviamente assim), me recuso a entrar num lugar em que eu precise da aprovação de alguém para ali poder consumir! Na minha cabeça (talvez muito errada), esses lugares não devem ser ocupados, mas sim esvaziados!!! São espaços privados que dependem do nosso dinheiro para sobreviverem... Porém, ao que me parece, cada vez mais, as pessoas não querem ser as barradas, como se isso as definisse!
Lógico que tenho nojo de um espaço que se define pela sua capacidade de existir a partir das pessoas que seleciona para entrar e das que têm sua entrada barrada. Mas, sinceramente, mais nojo tenho das pessoas que permitem a existência desses lugares, contribuindo com seu dinheiro para o financiamento dessa seleção, hoje, quase natural. Uma pena é ver que cada vez mais pessoas tentem ocupar esses locais e cada vez menos pessoas tentem esvaziá-los!
E enquanto todo mundo compartilha Dê um rolê, dos Novos Baianos, fico com Chopis Centis, dos sábios Mamonas Assassinas:
Esse tal "Chópis Cêntis" / É muicho legalzinho / Pra levar as namoradas / E dar uns rolêzinhos / (...) / Quanta gente / Quanta alegria / A minha felicidade / É um crediário / Nas Casas Bahia
------------------------------------------------------------------------------------------------------------E entra tudo no mesmo pacote: Esquenta, Funk ostentação, Rei do Camarote, Sertanejo Universitário, Anderson Silva... viva o Capitalismo da Autoestima Elevada do novo velho jovem brasileiro (angolano, argentino, boliviano...), que luta por si e consegue o que quer, com seu esforço próprio (ou de qualquer outro jeito...).
Recomendo: http://revistaforum.com.br/blog/2014/01/os-rolezinhos-um-apartheid-a-brasileira/
domingo, 29 de dezembro de 2013
Vilarejo
Pela ironia do mundo.
Pelo desejo de mudança.
Pela força da fé.
Pela fé na gente.
http://www.youtube.com/watch?v=WibtVWwW-EA
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Da o/pressão...
Pensando se sou oprimido ou opressor, pensei que é muito difícil não oprimir quando se é oprimido e não ser oprimido quando se oprime...
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Aprendendo a aprender...
Eu abismado com a habilidade da Sophia - minha sobrinha de 3 anos - ao jogar um jogo no tablet:
- Caramba, Sophia!! Quem te ensinou a jogar assim?
- Ninguém, tio! Eu me ensinei! (e soltou mó gargalhada...)
É Sophia, a escola brasileira devia aprender muito com você!
- Caramba, Sophia!! Quem te ensinou a jogar assim?
- Ninguém, tio! Eu me ensinei! (e soltou mó gargalhada...)
É Sophia, a escola brasileira devia aprender muito com você!
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