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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sobre rolês e rolés...

Tem muita gente aí defendendo o rolézin, mas reclama do funk que cantam no ônibus...
Tem muito professor aí defendendo o rolézin, mas xinga seus alunos pela batucada e gritaria em sala de aula...Tem muita moça aí defendendo o rolézin, mas segura a bolsa quando um menino pobre preto passa perto...Tem muito moço aí defendendo o rolézin, mas atravessa a rua e segura bem a mão da filha quando um grupo de jovens desce o morro e resolve passear no asfalto...
Tem muita gente aí, tem muita gente aqui, tem muita gente lá...



Contradições da vida urbana, em qual delas eu me encaixo?

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Tá um saco essa politização do rolézinho... não sei, mas me parece que as pessoas não estão tocando no ponto que deveria ser tocado. Só vi um texto que me pareceu sensível a compreender, de fato, a lógica das coisas... Esse capitalismo escroto já tá tão naturalizado que as pessoas não se questionam mais sobre as bases em que se assentam essas práticas, é isso???
Quando eu estava em Luanda, descobri que a tão famosa prática americana do "barrados no baile" (ou seja, a seleção de quem pode entrar e quem não pode entrar num espaço privado em que as pessoas entram para consumir) era bastante comum nas danceterias de lá. Conversando com um amiga que frequenta lugares aqui no Rio que eu não costumo frequentar, soube que essa já é uma prática bastante comum em muitas danceterias e afins por aqui! E o que as pessoas fazem? Cada vez mais, tentam ser as pessoas que conseguem entrar, e, quando entram, olham com o mesmo desprezo para as que ficaram do lado de fora! Se ampliarmos essa discussão para as áreas VIPs da vida, então...

Eu, obviamente (ou não tão obviamente assim), me recuso a entrar num lugar em que eu precise da aprovação de alguém para ali poder consumir! Na minha cabeça (talvez muito errada), esses lugares não devem ser ocupados, mas sim esvaziados!!! São espaços privados que dependem do nosso dinheiro para sobreviverem... Porém, ao que me parece, cada vez mais, as pessoas não querem ser as barradas, como se isso as definisse!

Lógico que tenho nojo de um espaço que se define pela sua capacidade de existir a partir das pessoas que seleciona para entrar e das que têm sua entrada barrada. Mas, sinceramente, mais nojo tenho das pessoas que permitem a existência desses lugares, contribuindo com seu dinheiro para o financiamento dessa seleção, hoje, quase natural. Uma pena é ver que cada vez mais pessoas tentem ocupar esses locais e cada vez menos pessoas tentem esvaziá-los!


E enquanto todo mundo compartilha Dê um rolê, dos Novos Baianos, fico com Chopis Centis, dos sábios Mamonas Assassinas:


Esse tal "Chópis Cêntis" / É muicho legalzinho / Pra levar as namoradas / E dar uns rolêzinhos / (...) / Quanta gente / Quanta alegria / A minha felicidade / É um crediário / Nas Casas Bahia
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E entra tudo no mesmo pacote: Esquenta, Funk ostentação, Rei do Camarote, Sertanejo Universitário, Anderson Silva... viva o Capitalismo da Autoestima Elevada do novo velho jovem brasileiro (angolano, argentino, boliviano...), que luta por si e consegue o que quer, com seu esforço próprio (ou de qualquer outro jeito...).

Recomendo: http://revistaforum.com.br/blog/2014/01/os-rolezinhos-um-apartheid-a-brasileira/

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